Rizomamos no último encontro do grupo das Bio-Oficinas. Entre conversas para troca de ideias acerca do conceito deleuzeano/guattariano de rizoma, Patrícia solicitou-nos que fizéssemos uma tradução dele por meio de outra linguagem: a plástica [visual]. Nossas mãos se potencializaram de devires-artísticos, nossos sentidos se entremearam aos nossos pensamentos e passamos ao registro do nosso próprio conceito. Infelizmente, para mim, o tempo do encontro foi insuficiente para eu concluir a minha imagem. Um rizoma interrompido pelo relógio.
Levei a minha tela para casa, ansiosa para concluir a minha fatia do conceito rizomático fora do seu contexto inicial. Assim procedi, e, ao chegar, continuei pintando o meu rizoma do jeito que eu o imaginava e o sentia. Dei-me conta de que toda essa trajetória, sair do encontro com a minha tela inacabada e molhada pelas tintas, equilibrando-a no ônibus, depois a minha chegada a casa, a continuação da pintura após fazer um lanche, a primeira fotografia ainda tirada com as tintas frescas, depois a segunda fotografia, no outro dia, já com a tela totalmente seca, a ser enviada novamente à Patrícia e a solicitação para que esta valesse como sendo a “verdadeira”, constituiu-se num rizoma. Houve uma ruptura, um corte na criação do meu conceito, ele foi atravessado por outras circunstâncias, recebi outras sensações, outros encontros e meu trabalho veio a dar visibilidade a essas novas influências, não previstas inicialmente, mas possíveis de uma sequência de leituras e sem aquele compromisso pensado no momento do disparo, ou seja, o de manter meu pensamento exatamente igual ao do ponto de partida. Então, o meu rizoma é síntese de uma trajetória maior do que a dos meus colegas, porque a minha tela sofreu um processo de desterritorialização. Ela apresenta uma função metalinguística, pois a própria pintura, por meio de sua trajetória rizomática, serve para explicar o conceito de rizoma.
Tradução da expressão plástica
rizoma: camadas de intensidades, texturas, sabores e cheiros diferentes que se conectam ou não, mas que abrem sempre a possibilidade de surgimento de uma terceira via; poiesia em que o entre se faz apairecer, sem eira nem beira, à sua vontade, deslizando pra cá e pra lá, afetando-se ou fazendo afetamento.
Tânia Marques
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