Gilles Deleuze
por Enrique Landgrave
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A cidade está calma. O dia parece cansado e sonolento. À nossa frente, fazem-se presentes grandes edifícios e um amontoado de casas tristes. Cidade grande, parafernália de fios de alta tensão, chaminés, prédios antigos, poluição. O silêncio entre nós dois denuncia a nossa solidão. Não conseguimos nos olhar, estamos virados para lados opostos, contemplamos vistas e objetivos diferentes. Percebo que você está pensativo, com as mãos para trás, uma agarrada na outra. Você está com a mesma roupa de anteontem. Seu olhar é vago, completamente reticente. Eu não me ponho indiferente a tudo isso. Permaneço ansiosa, quase aflita. Percebo que há uma comunicação velada entre nós. Ao mesmo tempo, procuro fugir de você. É estranho, sinto uma vontade imensa de ficar bem na sua frente, mas não consigo, alguma coisa me impele para o outro lado. Constato que, no muro do pátio da casa onde estamos, os ouriços inoxidáveis de proteção contra ladrões deixam-me ainda mais infeliz. Horrenda essa sensação que toma conta de mim: o isolamento interior comparado às farpas do arame que se encontra à minha frente. O porquê de tudo isso eu pergunto a mim mesma. Tento encontrar uma explicação, eu absorvo-me na paisagem nada contemplativa. Vejo edifícios em construção, outros tantos sujos pelo dióxido de carbono dos veículos; escuto o fim de tarde, mas não me convenço totalmente da nossa separação. O céu está sem nuvens, e eu, cheia de esperanças. Definitivamente, você permanece mudo, calado totalmente, não está presente em minha vida. Desorientei-me ainda mais agora. Não sei o que faço...

Tânia Marques
Contos Rizomáticos. Tecnologia do Blogger.
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